sexta-feira, 17 de março de 2006


EXÉRCITO ZAPATISTA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL. MÉXICO
Sexta Declaração da Selva Lacandona.

Esta é a nossa palavra simples que procura tocar o coração da gente humilde e simples como nós, mas, também como nós, digna e rebelde. Este é a nossa palavra simples para contar o que tem sido o nosso caminhar e onde estamos agora, para explicar como vemos o mundo e o nosso país, para dizer o que pensamos fazer e como pensamos fazê-lo, e para convidar outras pessoas a caminharem conosco em algo muito grande que se chama México e em algo maior que se chama Mundo. Esta é a nossa palavra simples para dar conta a todos os corações que são honestos e nobres, do que queremos no México e no Mundo. Esta é nossa palavra simples porque a nossa ideia é de chamar aqueles que são como nós e unirmo-nos a eles, em todos os lugares onde vivem e lutam.


1. Do que somos.
Nós somos os zapatistas do EZLN, ainda que nos chamem também “neozapatistas”. Bom, mas nós zapatistas do EZLN levantamo-nos em armas em janeiro de 1994 porque vimos a quantidade de maldades que nos fazem os poderosos, que só nos humilham, nos roubam, nos prendem e nos matam, e ninguém diz, nem faz nada.


Por isso, nós dissemos “Basta!”, ou seja, que já não vamos permitir que nos desprezem e nos tratem pior que os animais. E, então, também dissemos que queremos a democracia, a liberdade e a justiça para todos os mexicanos, ainda que nos tenhamos centrado mais nos povos indígenas. Porque nós do EZLN somos quase todos indígenas daqui de Chiapas, mas não queremos lutar só pelo nosso bem ou só pelo bem dos indígenas de Chiapas, ou só pelos povos indígenas do México, nós queremos lutar sim, com todas as pessoas simples e humildes como nós, que passam por grande necessidade e que sofrem a exploração e os roubos dos ricos e de seus maus governos aqui no nosso México e em outros países do mundo.


E então a nossa pequena história é que nos cansamos da exploração que nos faziam os poderosos e nos organizamos para nos defendermos e para lutar pela justiça. De início não somos muitos, somos apenas um punhado que andam de um lado para o outro, falando e ouvindo outras pessoas como nós. Fizemos isso durante muitos anos e fizemo-lo em segredo, sem fazer alarde. Ou seja, juntamos a nossa força em silêncio. Levamos cerca de 10 anos, depois crescemos e já éramos muitos milhares. Então preparamo-nos bem com a política e com as armas, e, de repente, quando os ricos estavam a celebrar a festa de ano novo, caímos sobre as suas cidades, ocupamo-las, e fizemos saber a todos que estávamos aqui, que eles têm que nos levar em consideração. E depois de os ricos ficarem muito assustados, enviaram-nos os seus grandes exércitos para que acabassem connosco, como sempre fazem quando os explorados se rebelam, mandam acabar com todos. Mas não conseguiram acabar connosco, porque nós preparamo-nos muito bem antes da guerra, e nos tornámos fortes nas nossas montanhas. E os exércitos andavam por aí procurando-nos e lançando as suas bombas e balas contra nós, e já estavam a fazer os seus planos para matar todos os indígenas por não saber quem é, e quem não é zapatista. E nós, correndo e combatendo, combatendo e correndo, como fizeram os nossos antepassados. Sem que nos entregássemos, sem que nos rendêssemos, sem que nos derrotassem.


Então os moradores das cidades saem ás ruas e começam a sua gritaria para que se pare com a guerra. Assim, nós paramos a nossa guerra e ouvimos estes irmãos e irmãs da cidade que nos dizem para tratarmos de chegar a um acordo, ou seja a um acordo com os maus governos para que o problema seja resolvido sem uma matança. E nós demos atenção a essa gente, porque esta gente é, como dizemos, “o povo”, ou seja o povo mexicano. Assim, colocamos de lado o fogo e tiramos a palavra.


Acontece que os governos disseram que se vão comportar bem, vão dialogar, vão fazer acordos e vão cumpri-los. E nós dissemos que está bem, mas também pensamos que está bem que conhecemos esta gente que saíu ás ruas para parar a guerra. Então, enquanto dialogamos com os maus governos, falamos também com estas pessoas e vimos que a maioria era gente humilde e simples como nós, e ambos, ou seja eles e nós, entendemos bem porque lutamos. Chamamos esta gente de “sociedade civil” porque a maioria não pertencia a partidos políticos, mas era gente comum, como nós, gente simples e humilde.


Mas acontece que os maus governos não queriam um bom acordo, sua artimanha era de falar e chegar a um acordo enquanto estavam a preparar os seus ataques para eliminar-nos de vez. E então atacaram-nos em várias ocasiões, mas não nos venceram porque resistimos bem e muita gente se mobilizou no mundo inteiro. E então os maus governos pensaram que o problema é que muita gente está a ver o que acontece com o EZLN, e começaram o seu plano de fazer como se nada estivesse a acontecer. E isso enquanto nos rodeiam, ou sejam nos cercam á espera de que, como as nossas montanhas ficam num lugar retirado, as pessoas acabem por esquecer, por estar longe da terra zapatista. De vez em quando, os maus governos tentam, tratam de nos enganar ou nos atacar, como em fevereiro de 1995 quando nos mandaram uma grande quantidade de tropas, mas não nos derrotaram. Porque, como dizem logo de seguida, não estamos sós, muita gente nos apoiou e resistimos bem.


Depois, os maus governos tiveram que fazer acordos com o EZLN e estes acordos chamam-se “Acordos de San Andrés” porque “San Andrés” é o município onde estes acordos foram assinados. Nestes diálogos nós não estávamos sozinhos a falar com os do mau governo, convidamos muitas pessoas e organizações que estavam ou estão na luta pelos povos indígenas do México, e todos diziam a sua palavra e todos chegávamos a acordos sobre como vamos falar com os maus governos. E assim foi este diálogo no qual não havia só zapatistas de um lado e governos do outro, mas com os zapatistas estavam sim os povos indígenas do México e os que os apoiam. E nestes acordos os maus governos disseram que vão reconhecer os direitos dos povos indígenas do México, vão respeitar sua cultura, e vão transformá-los em lei na Constituição.



Mas, depois de assinados, os maus governos fizeram-se de esquecidos. Passam muitos anos e nada de cumprir estes acordos. Ao contrário, o governo atacou os indígenas para obrigá-los a recuar na sua luta, como em 22 de Dezembro de 1997, data em que Zedillo mandou matar 45 homens, mulheres, anciãos e crianças no povoado de Chiapas que se chama Acteal. Crime como este não se esquece tão facilmente e é uma amostra de como os maus governos não têm escrúpulos em atacar e assassinar os que se rebelam contra as injustiças. Enquanto isso, nós zapatistas pressionamos para que se cumpram os acordos e vamos resistindo nas montanhas do sudeste mexicano.


E então começamos a falar com outros povos indígenas do México e com as suas organizações e acordamos com eles de que vamos lutar juntos pelo mesmo, ou seja, pelo reconhecimento dos direitos e da cultura indígenas. Bom, também nos apoiou muita gente do mundo inteiro, e pessoas que são muito respeitadas e cuja palavra é muito grande porque tratam-se de grandes intelectuais, artistas e cientistas do México e do mundo inteiro. Realizámos também encontros internacionais, ou seja, juntamo-nos para falar com pessoas da América, da Ásia, da Europa, da África e da Oceania, conhecemos as suas lutas e seus jeitos, e dissemos que são encontros “intergalácticos” só para sermos brincalhões e porque convidamos também os de outros planetas, mas parece que não chegaram, ou talvez chegaram, mas não o disseram claramente.


Seja como for, os maus governos não cumpriam [os acordos], e então fizemos um plano para falar com muitos mexicanos para que nos apoiassem. Então, antes de tudo, fizemos, em 1997, uma marcha até a Cidade do México que se chamou “dos 1.111″ porque iam um companheiro e uma companheira de cada povoado zapatista, mas o governo não lhe fez caso. Em seguida, em 1999, fizemos uma consulta em todo o país e aí deu pra ver que a maioria concorda com as exigências dos povos indígenas, mas os maus governos também não lhe fizeram caso. E, por último, em 2001, fizemos a que se chamou a “marcha pela dignidade indígena” que teve muito apoio de milhões de mexicanos e de outros países, e chegou até onde estão os deputados e os senadores, ou seja, o Congresso da União, para exigir o reconhecimento dos indígenas mexicanos.


Mas acontece que não, que os políticos do partido PRI, do partido PAN e do partido PRD entraram em acordo entre eles e simplesmente não reconheceram os direitos e a cultura indígenas. Isso foi em abril de 2001 e aí os políticos demonstraram claramente que não têm nenhuma decência e são sem-vergonhas que só pensam em ganhar o seu bom dinheiro como maus governantes que são. Temos que nos lembrar disso porque eles vão vos dizer que vão reconhecer os direitos indígenas, mas é uma mentira que eles usam para que votem neles, já tiveram sua oportunidade e não cumpriram o seu dever.


Foi então que nos apercebemos que o diálogo e a negociação com os maus governos do México foram em vão. Ou seja, não é conveniente que falemos com os políticos porque nem o seu coração, nem a sua palavra agem direito. Estão cheios de tramóias e soltam mentiras de que vão cumprir, mas depois não cumprem. Ou seja, naquele dia em que os políticos do PRI, do PAN e do PRD aprovaram uma lei inútil, mataram de vez o diálogo e deixaram claro que pouco importa o que eles acordam ou assinam porque não têm palavra. Em seguida, não fizemos nenhum contato com os poderes federais, porque entendemos que o diálogo e a negociação tinham fracassado por causa destes partidos políticos. Vimos que não se importavam com o sangue, a morte, o sofrimento, as mobilizações, as consultas, os esforços, os pronunciamentos nacionais e internacionais, os encontros, os acordos, as assinaturas, os compromissos. Desta forma, a classe política não só fechou, mais uma vez, a porta aos povos indígenas, como também deu um golpe mortal à solução pacífica, dialogada e negociada da guerra. E também não se pode mais acreditar que se cumpram os acordos a que se chega, com quem quer que seja. Observem para tirar proveito o que aconteceu conosco.


E então nós vimos tudo isso e pensamos nos nossos corações o que vamos fazer. A primeira coisa que vimos é que o nosso coração já não era como era antes, quando começamos nossa luta, mas sim que é maior porque já tocámos o coração de muita gente boa. E também vimos que o nosso coração está mais ferido. E não é que esteja ferido pelos enganos que os maus governos nos fizeram, mas sim porque quando tocamos os corações de outros tocamos também as suas dores. Ou seja, foi como vermo-nos num espelho.


2. Onde estamos agora.
Então, como zapatistas, pensamos que não bastava deixar de dialogar com o governo, mas que era necessário sim ir em frente na luta, apesar destes políticos parasitas e vagabundos. O EZLN decidiu então pelo cumprimento, sozinho e de sua parte (ou seja, o que se chama de “unilateral” porque é só de um lado) dos Acordos de San Andrés quanto aos direitos e a cultura indígenas.



Durante 4 anos, desde meados de 2001 até meados de 2005, dedicamo-nos a isso, e a outras coisas que já vamos contar.


Bom, começamos então a implantar os municípios autónomos rebeldes zapatistas, que é como se organizaram os povoados para governar e governar-se, para se tornar mais fortes. Esta forma de governo autónomo não foi inventada sem mais nem menos pelo EZLN, mas vem de vários séculos de resistência indígena e da própria experiência zapatistas, enquanto autogoverno das comunidades. Ou seja, não é alguém que vem de fora governar, mas os próprios povoados é que decidem, entre eles, quem e como governa, e se este não obedece então tiram-no. Ou seja, se quem manda não obedece ao povo, então o povo corre com ele, deixa de ser autoridade e entra outro.


Vimos então que os municípios autónomos não estavam todos no mesmo nível, mas havia alguns que estavam mais avançados e tinham mais apoios da sociedade civil, e outros estavam mais abandonados. Ou seja, que faltava organizar as coisas para que tudo fosse mais igualitário. Vimos também que o EZLN com sua parte político militar estava a meter-se nas decisões que cabiam ás autoridades democráticas, como se diz “civis”. E aqui o problema é que a parte político-militar do EZLN não é democrática, porque é um exército, e vimos que não está correcto que o militar esteja em cima e o democrático em baixo, porque não é possível que o democrático seja decidido militarmente, mas deve ser o contrário: ou seja, que o político-democrático está em cima a mandar, e em baixo o militar a obdecer. Ou talvez é melhor que não haja nada em baixo, que seja tudo bem plano, sem militar, e por isso os zapatistas são soldados para que não haja soldados. Bom, mas então, em relação a este problema, o que fizemos foi começar a separar o que é político militar do que são as formas de organização autónomas e democráticas das comunidades zapatistas. E assim, acções e decisões que antes o EZLN fazia e tomava, aos poucos foram repassadas ás autoridades democraticamente eleitas nos povoados. Claro que isso é fácil de dizer, mas na prática custa muito, porque são muitos anos, primeiro com a preparação da guerra e, em seguida, já é a guerra e vai-se acostumando com o político-militar. Mas, seja como for, fizemos isto porque este é o nosso jeito, de fazer o que dizemos, porque senão não faz sentido dizer se depois não o fazemos.


Foi assim que, em Agosto de 2003, nasceram as Juntas de Bom Governo, e com elas se continuou a aprendizagem e o exercício do “mandar obedecendo”. Desde então, e até meados de 2005, a direcção do EZLN não interferiu nos assuntos civis, mas acompanhou e apoiou as autoridades democraticamente eleitas pelos povoados e, além disso, vigiou para que fossem bem informados os povos e a sociedade civil nacional e internacional em relação aos apoios recebidos e em que foram utilizados. E agora estamos a passar o trabalho de vigilância do bom governo ás bases de apoio zapatistas, com cargos em esquema de rodízio, de tal forma que todos e todas aprendam e realizem este trabalho. Porque nós achamos que um povo que não vigia os seus governantes está condenado a ser escravo, e nós lutamos para sermos livres, não para mudar de dono a cada seis anos.


Durante estes 4 anos, o EZLN também passou ás Juntas de Bom Governo e aos Municípios Autónomos os apoios e contactos que, em todo o México e o mundo, foram conseguidos nestes anos de guerra e resistência. Além disso, durante este período, o EZLN foi construindo um apoio económico e político que permita ás comunidades zapatistas avançar com menos dificuldades na construção da sua autonomia e na melhora das suas condições de vida. Não é muito, mas é bem superior ao que se tinha antes do início do levante, em Janeiro de 1994. Se olhas para um desses estudos feitos pelos governos, vais ver que as únicas comunidades indígenas que melhoraram suas condições de vida, ou seja, a sua saúde, educação, alimentação, moradia, foram as que estão em território zapatista, que é como nós chamamos o lugar onde estão os nossos povoados. E tudo isso tem sido possível pelo avanço dos povoados zapatistas e pelo apoio muito grande recebido de pessoas boas e nobres, que chamamos de “sociedades civis”, e de suas organizações no mundo inteiro. Como se todas estas pessoas tivessem tornado realidade isso de que “outro mundo é possível”, mas nos factos, não nas simples palavras.


E então os povoados têm tido bons avanços. Agora há mais companheiros e companheiras que estão a aprender a ser governo. E, ainda que aos poucos, há mais mulheres que estão a entrar nestes trabalhos, mas ainda continua a faltar respeito para com as companheiras e que elas participem mais nos trabalhos da luta. Além disso, as Juntas de Bom Governo, têm melhorado a coordenação entre os municípios autónomos e a solução de problemas com outras organizações e com autoridades dos municípios oficiais. E também se melhorou muito nos projetos das comunidades, e é mais igualitária a distribuição de projectos e apoios dados pela sociedade civil do mundo inteiro: a saúde e a educação têm melhorado, mesmo que ainda falte um bocado para serem o que devem ser, o mesmo ocorreu com a moradia e a alimentação, e em algumas regiões tem melhorado muito o problema da terra porque as terras recuperadas dos fazendeiros foram distribuídas, mas há regiões que continuam a sofrer por falta de terras para cultivar. E também melhorou muito o apoio da sociedade civil nacional e internacional, porque antes cada um ia onde lhe dava na telha, e agora as Juntas de Bom Governo orientam em relação a onde é mais necessário. E, por isso mesmo, por toda parte, há mais companheiros e companheiras que estão a aprender a relacionar-se com as pessoas de outras regiões do México e do mundo, estão a aprender a respeitar e a exigir respeito, estão a aprender que há muitos mundos e que todos têm o seu lugar, seu tempo, seu jeito, e temos que nos respeitar mutuamente entre todos.
Bom, nós zapatistas do EZLN dedicamos esse tempo á nossa força principal, ou seja, aos povoados que nos apoiam. A situação passou por uma melhoria e não se pode dizer que a organização e a luta zapatistas foram em vão, e, ainda que acabem connosco de vez, a nossa luta serviu para alguma coisa.


Mas não foram só os povoados zapatistas a crescerem, o EZLN também cresceu. Porque o que aconteceu neste período é que novas gerações renovaram toda a nossa organização. Ou seja, injectaram uma nova força. Os comandantes e comandantas, que estavam na sua maturidade no início do levante em 1994, têm agora a sabedoria do que foi aprendido na guerra e no diálogo de 12 anos com milhares de homens e mulheres do mundo inteiro. Os membros do CCRI, a direcção político-organizativa zapatista, agora aconselham e orientam os novos que vão entrando em nossa luta e os que vão ocupando cargos de direcção. E já faz tempo que os “comitês” (que é como nós os chamamos) têm preparado toda uma nova geração de comandantes e comandantas que, depois de um período de instrução e prova, começam a conhecer os trabalhos do comando organizativo e a desempenhá-los. E acontece também que os nossos insurgentes, insurgentas, milicianos, milicianas, responsáveis locais e regionais, bem como as bases de apoio, que eram jovens no início do levante, já são homens e mulheres maduros, combatentes veteranos e líderes naturais em suas unidades e comunidades. E aqueles que eram crianças naquele janeiro de 1994, são jovens que têm crescido na resistência, e têm sido formados na digna rebeldia levada adiante pelos seus pais nestes 12 anos de guerra. Estes jovens têm uma formação política, técnica e cultural que nós que iniciamos o movimento zapatista não tínhamos. Esta juventude alimenta agora, cada vez mais, tanto nossas tropas como os postos de direcção na organização. E, bom, todos nós vimos as mentiras da classe política mexicana e a destruição que as suas acções provocam na nossa pátria. E vimos as grandes injustiças e matanças realizadas pela globalização neoliberal no mundo inteiro. Mas vou-lhes falar disso mais adiante.


Assim, o EZLN tem resistido a 12 anos de guerra, de ataques militares, políticos, ideológicos e económicos, de cerco, de perseguição, de hostilidades e não nos têm vencido, não nos vendemos, nem nos rendemos, e temos avançado. Mais companheiros de muitos lugares têm entrado na luta, de tal forma que, no lugar de tornarmo-nos mais fracos depois de tantos anos, nos fazemos mais fortes. Claro que há problemas que podem ser resolvidos separando mais o político-militar do civil-democrático. Mas há coisas, as mais importantes, como são as nossas exigências, pelas quais lutamos, que não foram completamente atingidas.


Conforme o nosso pensamento e o que vemos no nosso coração, temos chegado a um ponto em que não podemos ir além e, além disso, é possível que percamos tudo o que temos se ficamos como estamos e não fazemos nada para avançar. Ou seja, chegou a hora de arriscar outra vez e dar um passo perigoso, mas que vale a pena. Porque, talvez, unidos com outros sectores sociais que têm as mesmas carências, será possível conseguir o que precisamos e merecemos. Um novo passo adiante na luta indígena só é possível se o indígena se une aos operários, camponeses, estudantes, professores, empregados… ou seja, aos trabalhadores da cidade e do campo.
(A continuar…)


Das montanhas do Sudeste Mexicano
Comité Clandestino Revolucionário Indígena – Comando Geral do Exército Zapatista de Libertação Nacional.
México, no sexto mês do ano de 2005.

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