sábado, 31 de março de 2007

Caminhada ao alto de S. Gens - Castelo de Paiva



fotos: sergioR.

1 comentário:

JOSÉ LUIZ disse...

VOCÊ QUE SEMPRE ESCREVE SOBRE EZLN!

28.03.07 - MÉXICO
México: A IV Guerra Mundial e o Outro Mundo Possível
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Subcomandante Marcos *

Adital -
O Subcomandante Insurgente Marcos, reconhecido como porta-voz do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), em conferência organizada pelo Centro de Análise Políticos e Pesquisas Sociais (CAPISE) que reuniu lideranças latino-americanas da Via Campesina, afirmou que entramos na era da IV Guerra Mundial, na qual o "inimigo" é o planeta e não apenas os seus habitantes, mas também tudo que está nele: a natureza.

A conferência 'A guerra de conquista sobre o campo mexicano' foi publicado na íntegra pelo La Jornada, 26-3-2007. A tradução é do Cepat. Apresentamos aqui uma síntese.

Alguns pressupostos iniciais

A). - Sobre a Guerra Neoliberal

* A etapa atual do capitalismo é, no sentido estrito, uma nova guerra de conquista. A IV guerra mundial, uma guerra em todas as partes, o momento todo, de todas as formas. A mais mundial das guerras. O mercado converte em mercadorias bens que antes eram ignorados ou permaneciam fora do circuito mercantil.

* Assim, a água, o ar, a terra, os bens que contem o subsolo, os códigos genéticos e todas essas "coisas" que antes eram desconhecidas ou careciam de valor de uso e troca, converteram-se durante os vertiginosos últimos anos em uma mercadoria.

* A mercadoria que permanece, apesar das mudanças e dos avanços tecnológicos e informacional é a força de trabalho, as trabalhadoras e os trabalhadores do campo e da cidade. O sonho capitalista de um mundo sem trabalhadores, apenas com robôs e máquinas que não exijam os seus direitos, nem se sindicalizem e façam greves é isso: um sonho. Outro mundo apenas será possível sobre o cadáver do capitalismo, como sistema dominante.

* A globalização do capital destruiu as fronteiras nacionais e reacomodou o mundo. A lógica do mercado é agora o que determina as relações internacionais e as relações dentro dos moribundos Estados Nacionais.

* A lógica do mercado esconde por detrás de sua aparente inocência, a lógica da exploração, da espoliação, da repressão e do desprezo, ou seja, a lógica do capitalismo. A riqueza capitalista tem como origem o roubo e a exploração.

* A revolução tecnológica e informacional trouxe consigo a possibilidade da simultaneidade e a onipresença do capital, fundamentalmente do seu setor mais emblemático: o capital financeiro.

* Na Globalização Econômica Capitalista, ou seja, na IV Guerra Mundial, o "inimigo" é o planeta, não apenas os seus habitantes majoritários, mas também tudo que está nele: a natureza.

* O Imperialismo mudou a sua formas de guerrear, mas o amo segue sendo o capital e seu imperador vitalício, o capital financeiro.

Enquanto na lista da FORBES aparecem os supostos homens mais ricos do planeta, omite-se a referência ao que temos chamado da "Sociedade do Poder", um pequeno grupo de donos de indústrias, comércios, bancos e empresas turísticas.

Enquanto os senhores Bill Gates e Carlos Slim, para mencionar apenas dois que acreditam ser os mais ricos do mundo, a "Sociedade do Poder" faz com que acreditem. Mas os Estados Unidos tem em seu território 53 empresas que sozinhas, faz sete anos, 40% dos lucros a nível mundial. Estas empresas norte-americanas, junta com outras que operam desde o Japão, Alemanha, França, Inglaterra, Itália, os Países Baixos, Suíça e Coréia do Sul, obtém mais de 90% dos lucros mundiais. 193 empresas com sede nesses países obtiveram mais de 225 bilhões de dólares dos 250 bilhões que foram os lucros mundiais em 1997.

O senhor "Coca Cola" não existe, por isso não aparece na lista dos mais ricos. Tampouco o senhor "Wall Mart", o senhor "Ford", "Chrysler", "General Motors", "HSBC", "Santander", "Monsanto", etc.

* "Conquistado" na III Guerra Mundial o território que foi do campo socialista, o capitalismo dirige suas mãos ensangüentadas para os países pobres com abundantes recursos naturais: África, Ásia, Oriente Médio e América Latina. Estas regiões do mundo se especializaram em duas coisas, abundantes recursos naturais e uma legendária alta produção de pobres.

* Os povos autóctones em nível mundial (com mais de 300 milhões) estão sobre regiões que possuem 60% dos recursos naturais do planeta. A reconquista desses territórios é um dos objetivos principais da guerra capitalista.

* A América Latina é já um dos novos cenários da guerra de conquista e, portanto, os Povos Índios da América terão, com já fazem 500 anos, o papel protagônico na resistência.

B). - Sobre a Política de Cima na Globalização

* Nessa guerra de conquista, as forças expedicionárias na maioria dos paises da América Latina são formadas pelo governo e pela classe política. Salvo a exceção de Cuba, a rebeldia crescente da Venezuela e ainda por se definir a especificidade da Bolívia, os governos latino-americanos, sem importar sua suposta ideologia, converteram-se nos capitães da reconquista dos territórios que vieram florescer as civilizações dos povos originários dessas terras.

* Os governos nacionais são já claramente meros gerentes que cumprem as disposições do dono. E um gerente é, sobretudo, um capataz.

* Com o mercado nacional agoniza também todo o que em seu entorno floresceu: a classe política tradicional, a classe média, o pensamento crítico, o corporativismo, as grandes centrais operárias e campesinas, a autonomia relativa das instituições educativas, de pesquisa cientifica e da cultura e a arte, as relações comunitárias, o tecido social, a segurança social, a segurança pública, a democracia eleitoral.

* A chamada "classe média" que floresceu junto aos Estados Nacionais e se converteu em seu suporte social, ideológico e político, se encontra agora inerme (pelo menos no México) e, apesar de seus suspiros por uma mudança pausada que a leve de volta a sua bonança e tranqüilidade, vê com desesperação como a destruição alcança a sua antiga fortaleza e torre de cristal: a família.

C).- Sobre os meios de comunicação

* Se antes era o exército, a policia, os falcões, as guardas brancas; agora são os grandes meios de comunicação eletrônica os "inibidores" da luta democrática e social.

* Os meios de comunicação massiva substituem o Ministério Público, Jurado, Púlpito, Gabinete, polícia, juiz. Ah!, as vezes entretém.

* A nova "habilidade" dos meios de comunicação é fazer "desaparecer" realidades e movimentos, ignorando-os ou difamando-os (alguns exemplos recentes: o povo de San Salvador Atenco, o movimento da APPO em Oaxaca, a mobilização cidadã contra a fraude eleitoral de 02 de 2006), também podem criar tramóias midiáticas sem nenhuma sustentação real, ou seja, mitos pós-modernos.

Exemplos de mitos criados e difundidos pelos meios de comunicação:

* Mitos políticos: o governo de Felipe Calderón é forte, legítimo e legal e vela por todos os mexicanos; o PRD é um partido de esquerda; o PAN é o partido da "renovação cultural"; o PRI é um partido político.
* Mitos Desportivos: a seleção nacional do México tem qualidade futebolística de nível internacional; a série mundial de beisebol gringo é mundial;
* Mitos Militares: o exército federal existe para salvaguardar a soberania nacional;
* Mitos de Espetáculos: Britney Spears sofre em seu programa de desintoxicação; RDB é um grupo musical;
* Mitos Educativos: Elba Esther Gordillo é professora; Josefa Vázquez Mota trabalha para melhorar a educação no México.
* Mitos Jurídicos: A justiça no México é honesta, limpa, imparcial e objetiva; o Estado de Direito impera no México;
* Mitos Econômicos: as privatizações são necessárias e urgentes para a economia nacional; os bancos servem à economia nacional.
* Mito Cômico: Há alguma diferença entre as notícias da classe política e dos programas de humor.
* Mito Religioso: Onésimo Cepeda é um bispo católico.
* Mito Ético: A posição que se toma sobre o tema do aborto é uma posição a favor da vida ou a favor da morte.

D).- Sobre o Campo Mexicano

Marcos a partir das exposições de outros convidados da Via Campesina, Rafael Alegria (Equador), Sérgio Rodríguez Lazcano (México), João Pedro Stédile (Brasil), relata diferentes experiências das lutas mexicanas, entre elas as ocorridas em Sonora, San Luis Potosí; Zacatecas, Atenco, Oaxaca, Chiapas.

Chiapas

Na Chiapas de nossas dores e esperanças, as comunidades indígenas zapatistas demonstram que outro mundo é possível. E que é possível levantá-lo sobre a base da cultura indígena, sua concepção de terra e de território. Chamamos a isso: "Dignidade".

Conta uma lenda recente que nas sombras da madrugada das montanhas do sudeste mexicano, homens e mulheres de cor morena apenas têm em seu coração um temor: o de nada fazer frente à injustiça. "Os Vigilantes" chamam-se estes homens e mulheres. São o núcleo duro do Votán Zapata, do guardião e coração do povo. Elas e eles são quem cuidam de todos e a todos acompanham. Alguém lhes pergunta: "De que se trata tudo isso?". Elas e eles respondem: "De ser melhores, da única forma que é possível ser melhores, ou seja, juntos". A voz dos Vigilantes se escuta como um grito quando dizem: "De ser dignas e dignos, é disso que se trata tudo isso". E eu acrescento agora: "Um dos caminhos da dignidade continua sendo a Via Campesina em todo o mundo".

* Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN)